terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A voz do Anjo Mudo

O Anjo Mudo é muito mais do que o título de um livro publicado em 1993 pela Contexto. Representa o mistério da palavra poética em Al Berto. É essa voz que se silencia no coração do poema que tentamos que ecoe neste espaço, como se pudéssemos encostar o ouvido a um búzio magnífico para se ouvir o mito do mar.
Trata-se de um espaço de humilde tributo a um poeta que passou na terra como um anjo do prazer e da dor, arquitectado como um pequeno observatório da obra, vida e estudos al bertianos. Para além de um esforço de ir reunindo, ao sabor do tempo, todas as informações biobliográficas possíveis, anotando algumas passagens iluminadas, expondo imagens, recordando o acervo d'O Medo, tem também como ambição criar pontes com os poetas, escritores ou amantes hodiernos. Pretende-se ir criando um acervo de textos alusivos a Al Berto na forma de poemas, prosas, crónicas, estudos, entrevistas ou singelos manifestos de gosto, mas não só. Tentar-se-á atravessar todas as expressões artísticas, desde a música até ao teatro, à pintura, à fotografia, ao cinema, às performances, às declamações.
Será um ofício de eternidade, temos consciência. Um ofício que é um legado deixado já por outros que até terão tido o privilégio de terem privado com o poeta em vida. Um ofício de uma aprendiz desta viagem feita por uma poesia que levanta todos os problemas humanos fundamentais, que vai à raiz do mar, que é de excesso, feita de corpos e, por isso mesmo, de paixão, de tudo isso transposto com um poder singular do verbo e do nome. Al Berto é esse corpo inclinado para o abismo da vida, que se mantém vivo no epicentro das flores, na memória profunda deste amor que entregamos a quem o queira receber. No dorso de um anjo emudecemos também para que oiçamos, mais uma e outra vez, todas estas incríveis visões de quem amou assim a existência.